Não sei o que é, mas tenho saudades do tempo em que tinha vontade de escrever. Não sei se é vontade de escrever. Não sei o que é. Sei que tenho saudades. Não sei se é, mas para o caso de ser… para o caso de ser…
Aqui estou.
“E tu escolheste escrever!
Há quem escreva com medo de enlouquecer, outros porque não sabem fazer mais nada, porque não podem deixar de o fazer, alguns por dever de ilusão ou de vaidade, outros, finalmente, para troçarem da morte e fazerem filhos nas costas do tempo. Tu escreves para deixares de ter rosto. Deixar de aparecer. Dissolver o corpo para que ele deixe de encobrir as palavras. Transforma-te naquelas palavras que se juntam, se contradizem e se dispersam numa infinidade de pequenas imagens ou em punhados de cinza no alto de são uma falésia. As palavras obcecam-te. Dizes que são perigosas, que te impedem muitas vezes de dormir, que se tornam grãos de areia dentro da tua cabeça, o que te causa horríveis enxaquecas. Escreves para transpor a vida, para te pores do outro lado (não me perguntes qual), para te abrigares. Pura ilusão! As palavras são um véu, um tecido fino, frágil, transparente. Desejas que, por detrás desse pano estendido entre ti e o mundo, não se encontre ninguém, não se reconheça nenhuma figura.”
Tahar Ben Jelloun, O Escrivão Público, Cavalo de Ferro